sábado, outubro 15, 2005

Rosinha

“Pôs quando tu me deste a rosa pequenina...”
Eu, tão pequenina quanto, olhava – a admirada. Por uma magia inusitada e, talvez até indevida, gritava:
-Mãe, a rosa! A rosa pequenina! Essa é a rosa do Pequeno Príncipe?
-Pode ser minha filha, pode ser. Se, para você, ela é, então é!
E, após me responder, mamãe falara baixinho, pensando certa de que não ouvia:
-A rosa pequenina...”A que será que se destina?”.
E eu, já encantada com a minha primeira rosa, fiquei inquieta – “a que será que se destina? –”.
Sem entender nada, passei 20 anos com isso guardado bem dentro. Até que, um dia qualquer, escutei. O som, vindo do rádio da diarista lá na cozinha, gritava aos quatro cantos dos meus sentidos”:
- “Pôs quando tu me deste a rosa pequenina...”
Estanquei! “A que será que se destina?”.
-Porquê tanto encantamento naquela rosa pequenina, porquê?
Sozinha, isso me conduzira até a janela também pequenina do banheiro. Por ela, vi prédios enormes e, na calçada, uma criança. Corri para meus sobrinhos e perguntei enfática:
-Vocês gostariam de ganhar uma rosa pequenina?
Todos, menos o mais novo, disseram que não queriam:
-Pra quê?
O mais novo, pequeno, disse:
-Quero, quero!
Eu, olhando o chão que me faltava nas respostas, olhei o pequeno; abracei – o com um sorriso incapaz e saí solene buscando alguma rosa que em vão e ridícula é plástico resina estampada como linda nos covardes jarros que, como muitos de nós, aceitam tanta falsidade.
Será o homem plástico (a) resina? Jurava que aqui batia um coração puncionando sangue, mas são pilhas, fluidos; plástico resina (imensamente pequenina). Será?

Ana Carolina Bomfin Jacó