sábado, outubro 15, 2005

A noite dos tempos

Houve um dia que virou noite. De repente. Não houve pânico, apenas sono em seu lugar.

Todos, em todos em toda parte, adormeceram. Profundamente. Os corpos continuaram vivos, gastando pouca energia. O coração batia, delicadamente, o pulmão trabalhou no mesmo ritmo e todos os órgãos os acompanharam. Não houve frio. Não houve fome nem sede.

As máquinas pararam lentamente, sem causar estrago. Tudo adormeceu no silêncio absoluto.

Talvez tenha se passado muito tempo. Talvez não. Ninguém jamais soube exatamente.

Todos os seres vivos acordaram lentamente. A memória foi a última a despertar. Não houve lembrança de pressa. Nem de importância de coisas ou pessoas. Várias doenças e tristezas jamais acordaram da noite dos tempos.
O mundo amanheceu em paz.

Beatriz Rinaldi